terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

A POESIA PERTENCE A TODOS






PARA O MEU AMOR



A noite, sentei na areia da praia


viajei em meus pensamentos,


mudei a direção das ondas,


mudei a cor da lua,


e por mais que mude as estrelas de lugar,


não consegui parar de pensar em ti.


Tentei buscar 5.000 palavras,


e todas eram o teu nome.


Escrevi teu nome na areia,


depois de um tempo fui embora


o mar sumiu de mim,


entrei em casa


As estrelas e a lua sumiram.


Mas você continuou em mim,


Pois você mora no meu coração .



IRENE ESTRELA BULHÕES








CICLOS


Aos 5 anos tocava piano
Aos 10 falava inglês
Aos 15 debutava
Aos 18 engravidava
Aos 20 separava
Aos 25 tornava a se juntar
Aos 30 fazia análise
Aos 35 se emancipava
Aos 40 pensava
Aos 50 olhava para trás
Aos 55 engordava
Aos 60 criava os netos
Aos 65 chorava
Aos 70 esclerosava
Aos 75 tocava piano
Aos 80 falava inglês

Mario Sérgio de Andrade



Os girassóis de Van Gogh

Hoje eu vi
Soldados cantando por estradas de sangue
Frescura de manhãs em olhos de crianças
Mulheres mastigando as esperanças mortas.

Hoje eu vi os homens ao crepúsculo
Recebendo o amor no peito.
Hoje eu vi homens recebendo a guerra
Recebendo o pranto como balas no peito

E como a dor me abaixasse a cabeça
Eu vi os girassóis ardentes de Van Gogh!

Manoel de Barros



leminskiana


estar por cima?
estar por baixo?
conheço o processo
sucesso - fracasso

estar à beça
aberto ao abraço
estar inteiro no pedaço
é o que interessa

mesmo no bagaço
na lama na fossa
possa o fundo do poço

ser o primeiro passo


Cairo de Assis Trindade

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PROJETO



No esguio fruto
deste fiel poema
dedos se equiparam
à âncora e leme.
Torneiro das águas
no esmeril da lira,
faço-me espelhos
de rimas antigas.
Estuante e náufrago,
o ser marca ilhas
num mar por existir
de suas veias.



Natanael de Alencar




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CANÇÃO CAIÇARA



De onde vens, patrício , camarada, amigo,
salta da canoa, vem pousar em paz.
És dos Alcatrazes ou do Bom-Abrigo?
De uma das Queimadas ou dos Zanzalás?
Vens de Vila-Bela, do Montão -de-trigo?
Vais a Cananéia, vais aos Craguatás?
Venha de onde vieres, com prazer te sigo,
Vá para onde fores, tu comigo irás.
É que em toda a costa, paulistanamente,
Há uma só família, de tão boa gente,
Que em qualquer momento teu irmão sou eu.
Sem saber teu nome, dou-te o meu afeto,
é no comunismo do meu pobre teto,
A farinha é tua, todo o peixe é teu.



José Martins Fontes, poeta santista




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O DOM DA POESIA



Deixa a palavra escorregar.
Como um jardim o âmbar
e a cidra.
Magnânimo e distraído.
Devagar , devagar,
devagar.



Boris Pasternak, poeta e escritor russo,1890- 1960




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Não digas que o meu amor foi
um anel ou bracelete.
Meu amor é uma cidade sitiada,
é ousado e teimoso
que em sua busca navega para a morte.
Não diga que o meu amor foi
a lua.
Meu amor é uma explosão de faíscas.



Nizar Qabbani
poeta sírio, (1923-1997)



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FANATISMO


Minha alma de sonhar-te, anda perdida,


Meus olhos andam cegos de te ver!


Não és sequer razão do meu viver,


Pois que tu és já toda a minha vida!



Não vejo nada assim enlouquecido...


Passo no mundo, meu Amor , a ler


No misterioso livro do teu ser


A mesma história tantas vezes lida!



"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."


Quando me dizem isto, toda a graça


Duma boca divina fala em mim!



E, olhos postos em ti, digo de rastros : -


Ah! Podem voar mundos, morrer astros,


Que tu és como Deus : Princípio e Fim!...




Florbela Espanca Portugal, 1894 - 1930


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MEDIOCRIDADE



No infinito coberto de eternas belezas,
Como átomo perdido, incerto, solitário,
Um planeta chamado Terra, dias contados,
Voa com seus vermes para as profundezas.
Filhos sem cor, febris, ao jugo do trabalho,
Marchando, indiferentes ao grande mistério,
E quando um dos seus é enterrado, já sérios,
Saudam-no. Do torpor não são arrancados.
Viver, morrer, sem desconfiar da história
Do globo, sua miséria em eterna glória,
Sua agonia futura, o sol moribundo.
Vertigens de universo, todo o céu só festa!
Nada, nada terão visto. Partem do mundo
Sem visitar sequer o seu próprio planeta.



Jules Laforgue
Montevidéu, Uruguai, 1860, Paris, 1887


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NA LOJA DE FLORES



Um homem entra na loja de flores
e escolhe flores
a florista embrulha as flores
o homem enfia a mão no bolso
para pegar o dinheiro
dinheiro para pagar as flores
mas de repente e ao mesmo tempo
ele põe
a mão no coração
e cai
Enquanto cai
o dinheiro roda por terra
e depois as flores caem
ao mesmo tempo que o homem
ao mesmo tempo que o dinheiro
e a florista fica ali
vendo o dinheiro que roda
as flores que murcham
o homem que morre
tudo isso é muito triste é claro
e é preciso que ela faça alguma coisa
a florista
não sabe o que fazer
não sabe
por onde começar
Há tanta coisa por fazer
pelo homem que morre
pelas flores que murcham
e com o dinheiro
esse dinheiro que roda
que não pára de rodar.



Jacques Prévert , poeta francês


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Se amar é procurar a cousa amada
E unir duas vontades num desejo,
Se é ressentir um mal tão benfazejo
Que quanto mais tortura, mais agrada
Se amar é sofrer tudo por um nada
E a um tempo achar que é pouco e que é sobejo,
Já claramente agora entendo e vejo
Que não há de amor me dissuada.
Ó doce inquietação e doce engano,
Doce padecimento e desatino
De que não me envergonho, antes me ufano!
Comigo quantas vezes imagino :
Se é tão doce na terra o amor humano,
Que não será no Céu o amor divino?!



José Albano


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BOLHA DE VENTO



Querida, não venha me dizer
que você não sabe que eu morri
e mudei de casa, mudei de ares,
hoje estou vivendo numa bolha de vento.
Estou mudado, transformado, transtornado
Não tenho mais aquele rosto
que lhe esperava vagamente na janela.
Nem o modo distinto de cumprimentar as pessoas
com bom dia , com boa tarde, boa noite,
Arriverdérci, Roma.
Pois é , desaprendi a cantar, como falei
desaprendi todos os modos de viver.
E, como consequência,
lógica consequência,
Morri.
Não me venha dizer que você não sabia.


Narciso de Andrade


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NINFETA DE NOVOS SEIOS



Plumas ao vento
confundem o nevoeiro,
eu aqui, a me perder em brumas.
A mesma janela
e outro beija-flor a voar,
observo e espero, com a esperança
de quem não espera você voltar.
Folhas, nunca permecem em branco,
palavras, não dão lugar ao pranto,
águas da última chuva.
Gotas de orvalho da manhã passada,
ainda cintilam a pele alva,
revelam segredos da criança manhã
e o coração não obedece às palavras.
Ninfeta de novos seios,
eu aqui, a admirar espelhos.


Rafaelle Donzalisky


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AS PLÊIADES REVISITADA



" Pensando em Safo..."
Noite alta.
Céu distante...
Eu, bela errante,
adormeço em teu pêlo.
Relva negra
musgo
músculo
másculo,
Colo de Adônis.
Altar para meu Quadril.



Cissa Peralta


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Aos trancos e barrancos
Aos caras de concha
Às bichas de tamanco
Ao manco cego
Ao ego
Ao buraco do dente
Ao tênis sem meia
À enxaqueca
Aos ecos do ão do Lenine
Às sarjetas
Aos ratos
À puta que pariu



Isabelle D ´Avila


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AUTO-RETRATO


Eu fragmentada,


retratada pelo tempo.


No avesso me reconheço,


no interno cresço.


Tudo o que emano, é resultado do que foi


quebrado,


unido e colado.


Sem traumas, sem truques.


Da alma aos ossos.


Sem nós, só laços.


Eu fragmentada, mais inteira do que antes.


Com mais sorte, bem mais forte.


Em busca da liberdade para atingir o Próximo


passo, faço meu caminho e me


"AUTO - RETRATO" ...


Ana Karina Albuquerque.


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Embriagada de Vida



Estou guardada


numa garrafa...


de vida e etanol.


Álcool que me preserva


me sara e sucumbe


me consome e satisfaz.


cura a ferida


mata a sede


lava o coração.


Eu canto. Eu danço.


Eu conto. Eu aumento um ponto.


Eu aconteço.


Dentro da garrafa,


bamba e bêbeda,


vejo melhor lá fora.


Vamos embora!


Sair da garrafa


e ir à Vida.


Gabriela Mayeda




2 comentários:

Anônimo disse...

Tudo que fiz foi pouco.
Junto as poeiras
e faço despertar
as sombras noturnas.

Ecos de gente
sutis silhuetas que zanzam
nos sonhos.

Fiz acordar as loucas
de trapos
ou sem roupas
de toucas
que escolhem
aos que querem falar.

Fiz o caminho
ficar mais longe
usando a física
do homem

em segundos
do outro lado
de outros mundos
usando a visão
dos poetas

tetas negras
cobertas de óleo
mundo capital
animal desejo
carne

Não fiz meus amigos assim
como eu
Não fiz as pessoas tão desiguais
como eu
não fiz o universo tão louco
como eu
não fiz nada de nada
como eu

meu nome é onda
e passa na maresia,
ora, marola e riso,
ora, tormenta e ciso

preciso de silêncio

e tenho

meu medo traz somente figuras intocáveis

palpáveis são as bocas
que beijo

as mãos
que rasgam

docemente

o coração

Anônimo disse...

Voglio cantare e ascoltare i glutei urlare il mio nome. Solo perché sei un coglione