terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

EGOTRIP -


  • INÉDITOS







POEMA PARA IRENE








Meu mar


Meu céu


Minha montanha...


Dádiva dos deuses


A mim concedida


Para amar-te


e


Ser a sombra


Q te acompanha




...................................................





Acordei
Deixei a emoção de lado
Pus de escanteio
O afeto q nunca se encerra
Tive q ser algoz de mim mesmo
Acordei
E agora trago comigo
Um sono q não sonho mais.

No entanto, não mais q no entanto
Estou enlouquecendo devagar
Ensaiando outro sono.

...........................................................

Meu amor é vingança

É dança que envolve

Révolver que não atira

Mentira que brilha

É brilho sem luz.

A vingança é meu amor

Avança como onda

última do mar

Meu amor é vingança

Um amor sem amar.



SOMBRAS OBLIQUAS


Ao redor do fogo


pulei em minha sombras


A lua sorriu...













Poemas do livro Plenilúnio, 1982,de Valdir Alvarenga Edições Picaré





Achei um verso na rua


e chorei


pelo passado


que não tive.


*****


AUSÊNCIA


Teu rosto que não vejo


é a morte de meu desejo


Tua face que não miro


é o abismo em que me atiro


Tua voz que não escuto


é em meu coração um luto


Tua presença que se desvanece


é uma inútil prece.


*****


Pirata


das noites sem lua


invado sonhos


roubo fantasias


preparo armadilhas


conquisto madrugadas


para amanhecer


na areia quente


sem navio, sem armas


sem mar


Trazendo somente


um olhar


sangrando solidão.


*****


DO TERCEIRO ANDAR


( na rua Visconde de Faria )


... espio a rua


e ninguém passa...


(é só neblina, é só fumaça)


Colho


o brilho frio da lua


e me recolho.


Dentro de mim


fecho a vidraça.


*****


DOIS RIOS


Trasmutar a tua ausência


em poesia,


ou preparar uma mortalha


num aceno de despedida


agora definitiva.


Beber tua imagem


desfazê-la feita miragem


molhando o coração


ávido de amor,


Ou então :


decepar a mão cansada


de colher palavras infrutíferas,


inúteis como nossas vidas


... dois rios que se separam...


****
Andei cantando
ao vento
e minha lingua
virou pó.
Por isso
me tranquei em casa
e passeio pelo quarto
como num parque

*****

IMAGEM ALGUMA

Perdido
na mais ausente distância
Espelho
que não reflete imagem alguma
Alga marinha
no meio do oceano
Oculto
embora pressentido
Vento sem canto, mudo,
Eu
estrela pálida e fria
colho o vazio do nada que plantei.
Destino ou sina?
Nunca saberei...
Cansado estou
da viagem
que não viajei.

*******

MODO

Teu sorriso está guardado
no rosto em que miro
espelho quebrado
onde me corto,
me firo
e deliro
bebendo com agonia
e prazer
o sangue que escorre.
Assim,
morre
tua
face
petrificada
a cada dia.

******

LEGADO

Deus me deu
o dom da poesia
a luz da lucidez
Deus me deu
o entendimento do coração
o silêncio da solidão
e a sabedoria de se perder e achar.
Deus me deu a chave.
Eu que encontre a porta.

*****


Poemas do livro O PEQUENO MARGINAL, 1985, produção gráfica de Cesar Bargo Perez






Um dia gritarei tanto


que acabarei me reconhecendo


em todos os objetos.


******


a chuva retarda Marisa


mas a brisa


que é marítima


e do ar


bate perto


voa longe


qual borboleta amarelinha


de tanto sonhar.


a chuva retarda Marisa.


mas ,


mesmo que ela não venha


com seus olhos de espiar


como é bom Marisa esperar....


*****


Abre a janela


da tua vida


e veja :


lá fora


um pássaro cor de rosa


segura no bico


um pedaço azulado


da minha saudade


*****


SEM MISTÉRIO



lá onde os vivos não falam


e o medo anda só


todas as sombras se igualam


a vida se desfaz em pó.


ossos ajuntados


sem memória , sem testemunho


gargantas ganham um nó


que custará a desatar.


lá onde a vida se fecha


sem mais nenhuma cerimônia


sem mistério


sem dó.


****


CIRANDA


brinco tecendo um verso


no uni-verso estrela é


brinco palavra jogo


fogo ciranda canção


nome maria nome joão


brinco trabalho palavra


lavra mente muita fé


brinco trinco adormeço


em sonho vivo até


verso floresce coração


brinco de esconde-esconde


com a solidão


brinco.


a vida o que é ?







Os poemas abaixo são do livro Autógrafo, de Valdir Alvarenga, edição independente, ano 2000

VÍCIO EM TEU OLHAR
VÍ CIO EM TEU OLHAR
VICIO EM TEU OLHAR

*****

AFETO

Num instante
extasiamente belo
(lua nova no espaço)
Viestes
e me afetastes
com
o fino traço
do afeto.

*****

O sub-verso vivo
eterno agora
não tem tempo
a não ser sendo
subverter a vida
Vamos parar com isso!!!???
Será o Vício Sagrado?

*****

AS PESSOAS NÃO SE TOCAM
PORQUE NÃO SE TOCAM

*****
MÁGOA DE UM AMOR RASO

A palavra lágrima
já não rola
na saliva da alma...
Até a calma, dança
ao ritmo da faca.
Adeus, sua vaca!

*****

Nossa mente oclusa...
... e a temperatura
da tua blusa
queimava minhas mãos...

******

VAIDADE

VAI IDADE


*****

Confinados
que estão
em águas claras de cloro,
será que os peixes
acreditam
em "era de aquarius" ... ?

******

YOGUE URBANO

não sei se medito
ou me deito...

*****

PRA PIRÁ

Andirá
Pirabebe
Piracambucu
Piracema
Piracuara
Piracuca
Piranha
Piraí

*****

QUEBRANTO

Olho seca-telha, seca-pimenteira,
olho gordo, olho grande, olho grosso,
olho mata-pinto,
olho ruim, mau olhado,
traz feitiço , faz fascínio
" Benza-os Deus, olhos não são maus "
Colhida a fruta, a árvore apodrece
guiné dá alarme, aguça o cheiro,
Contra ti
haja oração , patuá, amuleto,
talismã, escapulário, carântula,
meia -lua
figa...
Isola ! Pé de pato, mangalô três vezes
" Não te receio !
tenho jesus cristinho
no coração "

*****

FRASES Q. FICARAM NA HISTÓRIA




Vim, vi, venci.
Veni, vidi,vici.
César ( político e escritor romano) .A expressão foi usada por César para destacar sua rápida campanha militar contra Fárnaces.


******
Navegar é preciso, viver não é preciso.
Atribuido a Pompeu Magno (político romano) usada para exortar os marinheiros a enfrentar o mar em tempestade para levar a Roma o trigo colhido nas províncias.

*****
Que comam brioches.
Qu`ils mangent de la brioche.
Maria Antonieta , rainha da França, assim teria dito quando lhe comunicaram que o povo não tinha pão.

*****
Doutor Livingstone, presumo.
Doctor Livingstone,I presume.
H.M.Stanley , jornalista e explorador britânico, ao reencontrar-se com o explorador Livingstone, depois de longas buscas.

******
Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes.
Alexandre, o Grande (rei da Macedônia) referindo-se ao filósofo cínico Diógenes, que desprezava a vida em sociedade e todo bem supérfluo.

MAXIMAS MINIMAS , CITAÇÕES PENSAMENTOS

Dá-se melhor com as mulheres aquele que sabe se dar bem sem elas.

Ambrose Bierce

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O sono é a morte sem responsabilidade.

Fran Lebowitz.

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O amor é um fósforo queimado , chapinhando num mictório.

Hart Crane

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É melhor dar a alma ao Diabo do que tentar vendê-la a Deus.
Gilbert Cesbron

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Quando meus amigos são caolhos, olho-os de perfil.
Joubert

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Amor sem amor, paga-se,
Sofocleto
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Outrora os analfabetos eram os que não iam à escola; hoje são os que a frequentam.
Paul Guth
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Os ausentes nunca tem razão.
Destouches
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A abelha atarefada não tem tempo para tristeza.
William Blake
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De todas as taras sexuais , não existe nenhuma mais estranha do que a castidade.
Millôr Fernandes
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Não devemos nunca acostumar-nos com a vida , isto seria a morte.
Paulo Bonfim
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O homem ama a companhia, mesmo que seja apenas a de uma vela que queima.
G.C. Lichtenberg
*****
O que torna as pessoas sociáveis é a sua incapacidade de suportar a solidão e, nela, a si mesmos.
A.Schopenhauer
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A ausência do ser amado deixa atrás de si um lento veneno que se chama esquecimento.
C.Aveline
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No amor , mais vale a caça do que a presa.
E.Pasquier
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É um péssimo cozinheiro aquele que não sabe lamber os próprios dedos.
W. Shakespeare
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Abrir-se com alguém, isto sim é realmente coisa de louco.
Pirandello
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O tédio é a asma da alma.
C.Bini.
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A felicidade mata os poetas

Honoré de Balzac

*****

A monogamia mata a paixão - e a paixão é o mais perigoso de todos os inimigos da

suposta civilização

H.L.Mencken

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A maior prova de mediocridade é desejar as coisas possíveis.

Mauro Mota

*****

A verdade é que as criaturas humanas perderam a crença no invisível.

Não é mais um adorador do belo e do bem, e sim um computador de lucros.

Carlyle

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Um covarde é incapaz de demonstrar amor; isso é privilégio dos corajosos.

Gandhi

A POESIA PERTENCE A TODOS






PARA O MEU AMOR



A noite, sentei na areia da praia


viajei em meus pensamentos,


mudei a direção das ondas,


mudei a cor da lua,


e por mais que mude as estrelas de lugar,


não consegui parar de pensar em ti.


Tentei buscar 5.000 palavras,


e todas eram o teu nome.


Escrevi teu nome na areia,


depois de um tempo fui embora


o mar sumiu de mim,


entrei em casa


As estrelas e a lua sumiram.


Mas você continuou em mim,


Pois você mora no meu coração .



IRENE ESTRELA BULHÕES








CICLOS


Aos 5 anos tocava piano
Aos 10 falava inglês
Aos 15 debutava
Aos 18 engravidava
Aos 20 separava
Aos 25 tornava a se juntar
Aos 30 fazia análise
Aos 35 se emancipava
Aos 40 pensava
Aos 50 olhava para trás
Aos 55 engordava
Aos 60 criava os netos
Aos 65 chorava
Aos 70 esclerosava
Aos 75 tocava piano
Aos 80 falava inglês

Mario Sérgio de Andrade



Os girassóis de Van Gogh

Hoje eu vi
Soldados cantando por estradas de sangue
Frescura de manhãs em olhos de crianças
Mulheres mastigando as esperanças mortas.

Hoje eu vi os homens ao crepúsculo
Recebendo o amor no peito.
Hoje eu vi homens recebendo a guerra
Recebendo o pranto como balas no peito

E como a dor me abaixasse a cabeça
Eu vi os girassóis ardentes de Van Gogh!

Manoel de Barros



leminskiana


estar por cima?
estar por baixo?
conheço o processo
sucesso - fracasso

estar à beça
aberto ao abraço
estar inteiro no pedaço
é o que interessa

mesmo no bagaço
na lama na fossa
possa o fundo do poço

ser o primeiro passo


Cairo de Assis Trindade

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PROJETO



No esguio fruto
deste fiel poema
dedos se equiparam
à âncora e leme.
Torneiro das águas
no esmeril da lira,
faço-me espelhos
de rimas antigas.
Estuante e náufrago,
o ser marca ilhas
num mar por existir
de suas veias.



Natanael de Alencar




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CANÇÃO CAIÇARA



De onde vens, patrício , camarada, amigo,
salta da canoa, vem pousar em paz.
És dos Alcatrazes ou do Bom-Abrigo?
De uma das Queimadas ou dos Zanzalás?
Vens de Vila-Bela, do Montão -de-trigo?
Vais a Cananéia, vais aos Craguatás?
Venha de onde vieres, com prazer te sigo,
Vá para onde fores, tu comigo irás.
É que em toda a costa, paulistanamente,
Há uma só família, de tão boa gente,
Que em qualquer momento teu irmão sou eu.
Sem saber teu nome, dou-te o meu afeto,
é no comunismo do meu pobre teto,
A farinha é tua, todo o peixe é teu.



José Martins Fontes, poeta santista




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O DOM DA POESIA



Deixa a palavra escorregar.
Como um jardim o âmbar
e a cidra.
Magnânimo e distraído.
Devagar , devagar,
devagar.



Boris Pasternak, poeta e escritor russo,1890- 1960




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Não digas que o meu amor foi
um anel ou bracelete.
Meu amor é uma cidade sitiada,
é ousado e teimoso
que em sua busca navega para a morte.
Não diga que o meu amor foi
a lua.
Meu amor é uma explosão de faíscas.



Nizar Qabbani
poeta sírio, (1923-1997)



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FANATISMO


Minha alma de sonhar-te, anda perdida,


Meus olhos andam cegos de te ver!


Não és sequer razão do meu viver,


Pois que tu és já toda a minha vida!



Não vejo nada assim enlouquecido...


Passo no mundo, meu Amor , a ler


No misterioso livro do teu ser


A mesma história tantas vezes lida!



"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."


Quando me dizem isto, toda a graça


Duma boca divina fala em mim!



E, olhos postos em ti, digo de rastros : -


Ah! Podem voar mundos, morrer astros,


Que tu és como Deus : Princípio e Fim!...




Florbela Espanca Portugal, 1894 - 1930


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MEDIOCRIDADE



No infinito coberto de eternas belezas,
Como átomo perdido, incerto, solitário,
Um planeta chamado Terra, dias contados,
Voa com seus vermes para as profundezas.
Filhos sem cor, febris, ao jugo do trabalho,
Marchando, indiferentes ao grande mistério,
E quando um dos seus é enterrado, já sérios,
Saudam-no. Do torpor não são arrancados.
Viver, morrer, sem desconfiar da história
Do globo, sua miséria em eterna glória,
Sua agonia futura, o sol moribundo.
Vertigens de universo, todo o céu só festa!
Nada, nada terão visto. Partem do mundo
Sem visitar sequer o seu próprio planeta.



Jules Laforgue
Montevidéu, Uruguai, 1860, Paris, 1887


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NA LOJA DE FLORES



Um homem entra na loja de flores
e escolhe flores
a florista embrulha as flores
o homem enfia a mão no bolso
para pegar o dinheiro
dinheiro para pagar as flores
mas de repente e ao mesmo tempo
ele põe
a mão no coração
e cai
Enquanto cai
o dinheiro roda por terra
e depois as flores caem
ao mesmo tempo que o homem
ao mesmo tempo que o dinheiro
e a florista fica ali
vendo o dinheiro que roda
as flores que murcham
o homem que morre
tudo isso é muito triste é claro
e é preciso que ela faça alguma coisa
a florista
não sabe o que fazer
não sabe
por onde começar
Há tanta coisa por fazer
pelo homem que morre
pelas flores que murcham
e com o dinheiro
esse dinheiro que roda
que não pára de rodar.



Jacques Prévert , poeta francês


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Se amar é procurar a cousa amada
E unir duas vontades num desejo,
Se é ressentir um mal tão benfazejo
Que quanto mais tortura, mais agrada
Se amar é sofrer tudo por um nada
E a um tempo achar que é pouco e que é sobejo,
Já claramente agora entendo e vejo
Que não há de amor me dissuada.
Ó doce inquietação e doce engano,
Doce padecimento e desatino
De que não me envergonho, antes me ufano!
Comigo quantas vezes imagino :
Se é tão doce na terra o amor humano,
Que não será no Céu o amor divino?!



José Albano


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BOLHA DE VENTO



Querida, não venha me dizer
que você não sabe que eu morri
e mudei de casa, mudei de ares,
hoje estou vivendo numa bolha de vento.
Estou mudado, transformado, transtornado
Não tenho mais aquele rosto
que lhe esperava vagamente na janela.
Nem o modo distinto de cumprimentar as pessoas
com bom dia , com boa tarde, boa noite,
Arriverdérci, Roma.
Pois é , desaprendi a cantar, como falei
desaprendi todos os modos de viver.
E, como consequência,
lógica consequência,
Morri.
Não me venha dizer que você não sabia.


Narciso de Andrade


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NINFETA DE NOVOS SEIOS



Plumas ao vento
confundem o nevoeiro,
eu aqui, a me perder em brumas.
A mesma janela
e outro beija-flor a voar,
observo e espero, com a esperança
de quem não espera você voltar.
Folhas, nunca permecem em branco,
palavras, não dão lugar ao pranto,
águas da última chuva.
Gotas de orvalho da manhã passada,
ainda cintilam a pele alva,
revelam segredos da criança manhã
e o coração não obedece às palavras.
Ninfeta de novos seios,
eu aqui, a admirar espelhos.


Rafaelle Donzalisky


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AS PLÊIADES REVISITADA



" Pensando em Safo..."
Noite alta.
Céu distante...
Eu, bela errante,
adormeço em teu pêlo.
Relva negra
musgo
músculo
másculo,
Colo de Adônis.
Altar para meu Quadril.



Cissa Peralta


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Aos trancos e barrancos
Aos caras de concha
Às bichas de tamanco
Ao manco cego
Ao ego
Ao buraco do dente
Ao tênis sem meia
À enxaqueca
Aos ecos do ão do Lenine
Às sarjetas
Aos ratos
À puta que pariu



Isabelle D ´Avila


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AUTO-RETRATO


Eu fragmentada,


retratada pelo tempo.


No avesso me reconheço,


no interno cresço.


Tudo o que emano, é resultado do que foi


quebrado,


unido e colado.


Sem traumas, sem truques.


Da alma aos ossos.


Sem nós, só laços.


Eu fragmentada, mais inteira do que antes.


Com mais sorte, bem mais forte.


Em busca da liberdade para atingir o Próximo


passo, faço meu caminho e me


"AUTO - RETRATO" ...


Ana Karina Albuquerque.


*****


Embriagada de Vida



Estou guardada


numa garrafa...


de vida e etanol.


Álcool que me preserva


me sara e sucumbe


me consome e satisfaz.


cura a ferida


mata a sede


lava o coração.


Eu canto. Eu danço.


Eu conto. Eu aumento um ponto.


Eu aconteço.


Dentro da garrafa,


bamba e bêbeda,


vejo melhor lá fora.


Vamos embora!


Sair da garrafa


e ir à Vida.


Gabriela Mayeda




ESTILHAÇOS POÉTICOS

(...)
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
(...)

Alberto Caeiro
(1911-1912)

A lição é velha, o tempo a comprova,

E os que melhor a conhecem, são os que mais a deploram.

Quando enfim se alcança o que todos cobiçam,

O prêmio vil mal valeu o custo.

Byron

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Vozes veladas, veludosas vozes,

Volúpia dos vilões, vozes veladas.

Vagam nos velhos vértices velozes


Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.


Cruz e Sousa

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Cantos e metrópoles, lavinas febris,
terras descoradas, pólos sem glória,
miséria, heróis e mulheres da escória,
Sobrolhos espectrais, tumulto em carris.
Soam ventoinhas em nuvens perdidas.
Os livros são bruxas. Povos desconexos.
A alma reduz-se a mínimos complexos.
A arte está morta. As horas reduzidas.


fragmento do poema "O meu tempo ", do poeta alemão Wilhein Klem

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Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.


quadra do poema "Menina e Moça" de Machado de Assis, excluído pelo autor quando reuniu seus poemas em um volume.

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Hão de chorar por elas os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.


Alphonsus de Guimaraens

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Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil :
- Em que espelho ficou perdida
a minha face ?


Cecília Meireles

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Lua cheia


Boião de leite
que a noite leva
com mãos de treva,
pra não sei quem beber.
E que, embora levado
muito devagarinho,
vai derramando pingos brancos
pelo caminho.

Cassiano Ricardo

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O ÚLTIMO PASSEIO


Deixaste cair na poeira a tulipa vermelha que te dei. Apanhei-a : tornara-se branca.
Em tão rápido instante, havia nevado sobre nosso amor.

Poesia chinesa

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ESCREVER


Escrever ... mas por quê?

Por vaidade, está visto

Pegar da pena... olha que graça terá isto

se já se sabe tudo o que vai se dizer...


Mario Quintana

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OBJETOS


Vivem ao nosso lado

os ignoramos, nos ignoram

Vez por outra conversam conosco.


Octavio Paz

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... Chegou um tempo em que não adianta morrer

chegou um tempo em que a vida é uma ordem

A vida apenas, sem mistificação.



Carlos Drummond de Andrade

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A poesia é o autêntico real. Absoluto. Isto é o cerne da minha filosofia.

Quanto mais poético, mais verdadeiro.


(Novalis)

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PARA SER GRANDE, sê inteiro : nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


Fernando Pessoa

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(...)
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles , considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.


Carlos Drummond de Andrade

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.... Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim...


Mário de Sá-Carneiro

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Eu canto porque o instante existe
E minha vida está completa
Não sou alegre nem sou triste :
Sou poeta.


Cecília Meireles

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Esta folha branca
me proscreve o sonho,
me incita ao verso
nítido e preciso.


João Cabral de Melo Neto

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INFÂNCIA


Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se "agora"


Guilherme de Almeida

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Acorde
recorde que você é uma criatura
que veio de uma estrela
que está em uma estrela
que irá para uma estrela
pouse suave


hermes de trismegistro - (egito 3 000 a.c)

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de tanto não poder dizer
meus olhos deram de falar
só falta você ouvir


Alice Ruiz

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: já é dia.
Os caules são serenos, e ao vê-los
no côncavo da mão o sol nascia.

Pedro Támen, poeta português

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Mais vale
uma urna de vinho
que o poder ,
glória e riquezas.
Respeito o amante que
geme de felicidade, detesto
o hipócrita
que murmura orações.

Omar Khayyam, do livro Rubaiyat.

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UMA VOZ


Sua voz quando ela canta
me lembra um pássaro mas
não um pássaro cantando
lembra um pássaro voando


Ferreira Gullar

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passe o que nasce
passe o que nem
passe o que faz
passe o que faz-se
que tudo passe
e passe muito bem

Paulo Leminski

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RELÓGIO


Diante de coisa tão doída
conservemo-nos serenos.
Cada minuto de vida
nunca é mais, sempre é menos.
Ser é apenas uma face
do não ser, e não do ser.
Desde o instante em que se nasce
já se começa a morrer.

Cassiano Ricardo

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DALTONISMO


Olhe de novo
não existem brancos
não existem negros
somos todos arco-íris.


Ulisses Tavares

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LIBERDADE


Desligada
o vento morde meus cabelos sem medo :
tenho todas as idades.

Olga Savary

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EPIGRAMA


Sobre uma rosa aberta um besouro vem e vai...
O vento chega. O besouro foge.
E, folha a folha,
a rosa se desfolha,
e cai...

Ronald de Carvalho

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RECUPERAÇÃO DA ADOLESCÊNCIA


é sempre mais difícil
ancorar um navio no espaço

Ana Cristina Cesar

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SOL NULO


Sol nulo dos dias vãos
cheios de lida e de calma
Aquece ao menos as mãos
A quem não entras na alma!
Que ao menos a mão, roçando
A mão que por ela passe
com externo calor brando
o frio da alma disfarce
Senhor, já que a dor é nossa
e a fraqueza que ela tem
Dá-nos ao menos a força
de a não mostrar a ninguém


Fernando Pessoa

ESCRITORES E SUAS VIDAS TRÁGICAS

  • Albert Camus ,escritor argelino morreu em 1960 vítimado por um acidente de automóvel. Em sua maleta estava o manuscrito de "O Primeiro Homem",romance autobiográfico. Por ironia do destino, nas notas ao texto ele escreve que aquele romance deveria ser inacabado. Sua mãe Catherine Hélène Camus ao receber a notícia da morte do filho apenas disse : "Jovem demais." Coincidentemente ela também morreu no ano de 1960. No bolso de Albert Camus foi encontrado um bilhete de trem com destino para fora do país.
    Camus de início nao faria a a viagem para Paris de carro junto com os Gallimard (Michel, Janine e a filha deles Anne). Ele pretendia ir
    com o poeta René Char, de trem. Mas por insistência de Michel ele resolveu ir de carro com eles. Char também foi convidado, mas não quis aceitou pois além de já ter comprado sua passagem, achou que iriam muitas pessoas carro.
  • No acidente o automóvel Facel-Véga de Michel bateu violentamente contra uma árvore. Somente Camus morreu na hora. Michel morreu no hospital 5 dias depois. O relógio do painel do carro parou no instante do acidente: 13:55h.

  • O poeta Aníbal Teófilo em 14 de junho de 1915 foi assassinado a tiros pelo escritor Gilberto Amado que se desentederam durante debate quase no término da cerimônia de inauguração da Sociedade Brasileira de Homens de Letras, entidade criada por Olavo Bilac e que foi realizada no prédio do Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro.

  • O poeta Batista Cepelos teve como seu protetor político o senador Peixoto Gomide e devido a esta convivência conheceu a filha deste por quem se apaixonou e chegando ao ponto de marcar casamento. Porém, o senador , num gesto de extremo descontrole assassinou a filha e em seguida se suicida, revelando antes que os noivos eram irmãos. Chocado , Cepellos cometeu suicídio , no Rio de Janeiro, sob o e feito de forte depressão.

  • O poeta Ronald de Carvalho , no ápice de sua carreira diplomática e política morreu num desastre de automóvel , no Rio de Janeiro, em 15 fevereiro de 1935 quando se dirigia para o Itamarati onde faria uma palestra.

  • Manuel Antonio de Almeida , o autor de " Memórias de um Sargento de Milícias" morreu em um naufrágio no canal perto de Macaé, em 1861.

  • O poeta Antonio Gonçalves retornou à Europa em 1862, desta vez para tratamento de saúde. Em 1864 ao regressar ao Brasil, o navio Ville de Boulogne que trazia o poeta, naufragou na costa brasileira. Ao que consta salvaram-se todos menos o poeta , esquecido por encontrar-se em seu leito, quase agonizante.

  • No ano de 1909, no Rio de Janeiro, o escritor Euclides da Cunha morreu durante uma troca de tiros com jovem militar Dilermando Cândido de Assis, amante de sua mulher. Ao tentar ajudar Dilermando sua irmã Dinorah, foi atingida na coluna vertebral, próximo à nuca ficando inutilizada para o resto de sua vida.

  • O romancista e historiador Octavio Tarquinio de Souza, morreu num desastre de avião, na baía da Guanabara, Rio de Janeiro, em 22 de dezembro de 1959, juntamente com sua esposa, a escritora Lucia Miguel Pereira.

  • O poeta e crítico Mario Faustino faleceu em desastre aéreo , em Pachacana, Peru, no dia 27 de novembro de 1962.

  • O escritor Jackson de Figueiredo , morre afogado , na praia de Joá, Rio de Janeiro, em 4 de novembro de1928

  • O escritor Oswald Beresford em 11 de setembro de 1924, suicidou-se com um tiro. Seu romance , Mme Cosmópolis, considerado uma obra cheia de audácia e crua, foi proibida por seu pai, rico proprietário de Sorocaba, o qual ordenou que os exemplares impressos fossem queimados. Acometido de desespero o escritor chama um táxi pedindo que o conduzisse até o bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, e , próximo à avenida Vieira Souto , dispara o revólver e se mata.

  • O escritor Brito Broca, morreu atropelado na praia do Flamengo, Rio de Janeiro, em 20 de agosto de 1961.

  • Silva Jardim, o conhecido escritor abolicionista , morreu numa cratera do Vesúvio , em 1 de julho de 1891.

ESCRITORES SUICÍDAS

  • Pedro Nava - 13 de maio de 1984, na rua da Glória, no Rio de Janeiro

  • Ana Cristina Cesar - 29 de outubro de 1983, no Rio de Janeiro, saltando do edificio onde moravam seus pais.

  • Torquato Neto - 10 de novembro, de 1972, intoxicado com o gás de seu banheiro totalmente trancado. Deixou o seguinte bilhete : " Tenho saudades como os cariocas, do dia que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar "

  • Hermes Fontes - 26 de dezembro de 1930, com um tiro no peito, no Rio de Janeiro

  • Batista Cepellos - 08 de maio de 1915, encontrado morto numa pedreira, no Rio de Janeiro.

  • Raul Pompéia - 25 de dezembro de 1895, no Rio de Janeiro , com um tiro no coração. Teria dito a um amigo , dias antes, que um artista jamais deveria esfacelar seu cérebro.

  • Cláudio Manuel da Costa , o poeta inconfidente, suicida-se em 4 de junho de 1789, no cárcere em Ouro Preto, Minas Gerais.

PSEUDÔNIMOS POETAS/ESCRITORES BRASILEIROS

  • Possidônio Cezimbra Machado - Marcelo Gama, poeta simbolista

  • Tristão de Ataide - Alceu Amoroso Lima

  • Artur da Távola - Paulo Alberto Monteiro de Barros

  • Marques Rebelo - Edi Dias da Cruz

  • Juó Bananére - Alexandre Ribeiro Marcondes Machado

  • João do Rio - João Paulo Emilio Cristovão dos Santos Coelho Barreto

  • Qorpo-Santo - José Joaquim de Campos Leão

  • Pedro Dantas - Prudente de Morais Neto

  • Pagu - Patricia Galvão

ESCRITORES NA VIDA POLÍTICA

  • No ano de 1945 , Jorge Amado tornou-se eleito deputado federal pelo PCB, por São Paulo, porém teve seu mandato cassado três anos depois.

  • José de Alencar, aos 39 anos, em 1 868, foi Ministro da Justiça . No ano posterior candidatou-se ao Senado sendo o mais votado. Teve, no entanto, seu nome vetado pelo imperador D.Pedro II.

  • Graciliano Ramos tornou-se eleito prefeito de Palmeira dos Indios, no interior de Alagoas, no ano de 1928, renunciando ao cargo dois anos depois.

PSEUDÔNIMOS

  • Novalis - Friedrich von Hardenberg
  • Alberto Moravia - Alberto Pincherie
  • Andre Maurois - Émile Herzog
  • Louis Ferdinand Céline - Louis Ferdinand Destouches
  • Françoise Sagan - Françoise Quoirez.
  • Stendhal - Henry Marie Beyle
  • Mark Twain - Samuel Langhorne Clemens
  • Lewis Carroll - Charles Lutwidge Dogdson
  • Voltaire - François_Marie Arouet
  • George Orwell - Eric Arthur Blair
  • Molière - Jean Baptiste Poquelin
  • Tennessee Williams - Thomas Lanier Williams

AS LETRAS DENTRO DA CELA

  • Miguel de Cervantes iniciou sua grande obra Dom Quixote enquanto esteve preso, por três meses na prisão de Sevilha, em 1597. Motivo da prisão : dívidas não pagas.

  • Voltaire permaneceu onze meses preso na Bastilha, entre 1717 e 1718, por escrever poemas criticando o regime. Na prisão começou a escrever seu poema épico Henriade e adotou o nome de Voltaire.

  • Oscar Wilde , em 1895, foi condenado, depois de três julgamentos, a dois anos de prisão, com trabalhos forçados por " cometer atos imorais com diversos rapazes ". Enquanto amargou as duras condições das prisões produziu obras belissímas : De profundis, A alma do home sob o socialismo, e a Balada do cárcere de Reading.